Renato Fernandes
Milhas Náuticas
Para Priscila
Hoje não me agrada a luz matutina
O chilrear dos pássaros que despertam
Nem a inclinação invisível das flores
Hoje me interassa mais a inatividade,
A álgebra oculta dos ponteiros imóveis,
Da hora que custa a passar,
Que anda para trás.
É que estando vivo, a vida me escapa
E a parca luz de meus olhos fechados
Oscilam perdidas, sem foco
Em busca de ti, e nada encontram
Saudosas de ti, e não descansam
Aguardam a brisa da mudança
E o retorno, sempre o retorno
Milhas cósmicas se multiplicam entre nós
Imensuráveis e profundas
Afogadas em um oceano que temo
Escuro como as madrugadas solitárias
E intransponível para mim
Horas e séculos de espera
E o mensageiro das águas não chega
Mas tais águas escuras, que tudo inundam
Respingam inócuas no alto rochedo
Da resistência e busca pela sanidade
Que seu toque sereno em mim incutiu
E paira soberano sobre os oceanos
Como símbolo de nosso amor
Como símbolo de nossa vida.
