Renato Fernandes
Outra Infância
Espreitas ao longe com olhos incautos
As cores bruxuleantes do desconhecido
Como quem vê algo que ali não se encontra
Ou que de fato lhe enxerga o subjacente sentido
Haveria palavras adequadas nesta terra
Para explicar-te em detalhes o que temos esquecido?
Contigo avanço aos passos cambaleantes
Pelos contrafortes enevoados da humana ruína
Levo-te pelas mãos inexperientes e frágeis
Até que caminhes para tua própria sina
Haverá miséria o bastante nesta terra
Para que um dia te entristeças com o que hoje lhe fascina?
Juntos balbuciaremos frases imperfeitas
Até que te pronuncies na língua ritual
Imitarás aos risos o chilrear dos pássaros
Ouvirás dos lobos o uivo primal
Haverá nesta terra mãos tão poderosas
Que consigam calar-te o instinto ancestral?
Não te apresses, criança, ou te escondas do tempo
Aos pequenos tolera-se o erro e a descoberta
Exigir que adentres o castelo dos homens
É cegar-te e calar-te frente à porta entreaberta
Haverá nesta terra a mínima esperança
De um destino diverso a uma alma que desperta?
